sábado, 4 de junho de 2011

Governo e Ministro - por Marcos Coimbra – Sociólogo e presidente do Instituto Vox Populi


Mundo afora, em democracias maduras ou não, ministros são questionados e denunciados sem que isso provoque abalos maiores nos governos de que participam. Já aconteceu em quase qualquer país de que lembrarmos.

Enquanto a oposição se move com cautela no caso Palocci, a imprensa tem pressa. Pelo que se lê nos principais jornais, as evidências estão prontas, as testemunhas ouvidas, houve o julgamento e a sentença foi passada. Seu interesse agora é outro: avaliar as consequências de tudo isso na imagem do governo e da presidente. Os comentaristas mais afoitos parecem não ter dúvidas: o mundo acabou para Dilma. A lua de mel com a opinião pública chegou ao fim, a popularidade escorrega ladeira abaixo, sua base de sustentação no Congresso se esfacelará daqui a pouco. Como o episódio ocorreu nos dias em que a presidente tinha reduzido seus compromissos externos (por estar se recuperando de uma pneumonia), amplificaram o quadro. “Sumida”, “fechada em si mesma”, “isolada no Planalto, dedicando-se exclusivamente à administração da crise”, é assim que ela foi descrita.

Só faltou dizer que o governo Dilma tinha terminado (na verdade, houve até quem o sugerisse, profetizando que Lula “voltaria” para por ordem na casa, tão mais cedo do que chegaram a esperar). É como se fosse o quinto ano de Sarney, com a diferença de estarmos no quinto mês. Quem tem um mínimo de experiência com as pesquisas de opinião sabe, no entanto, que essas especulações fazem pouco sentido. Para a vasta maioria da população, os problemas de um ministro não são, necessariamente, problemas do governo. Isso não é uma idiossincrasia brasileira ou um sintoma de nosso atraso. Tampouco deriva da baixa escolaridade média do eleitorado. Mundo afora, em democracias maduras ou não, ministros são questionados e denunciados sem que isso provoque abalos maiores nos governos de que participam. Já aconteceu em quase qualquer país de que lembrarmos, por motivos que variam de comportamentos privados inconvenientes a suspeitas de que tinham favorecido seus próprios interesses ou os de alguém.

No Brasil, não houve um só governo que não tivesse passado por situação parecida. Da redemocratização para cá, todos. Vira e mexe, um ministro é acusado e enfrenta problemas, mas a vida do governo continua. A razão disso está em que a opinião pública sabe que “essas coisas” podem ocorrer e ocorrem. Ninguém gosta delas, mas não se espanta quando é informado que sucederam. Imaginar o inverso é desconhecer como se forma a imagem de um governo. Só os menos inteligentes supõem que tudo é 100% bom (ou 100% ruim): todos seus integrantes são perfeitos (ou pecadores), tudo que faz é certo (ou errado), enfrenta todos os obstáculos com a mesma competência (ou incompetência). Pessoas normais avaliam os governos como julgam as outras coisas da vida (seu trabalho, seus relacionamentos, sua rotina): uma mistura de coisas boas e outras nem tanto. O que importa mesmo é a resultante disso tudo, a média. Palocci tem problemas? Está visto que sim. Isso quer dizer que Dilma os tem? Não junto à opinião pública. 

Quem aposta que o “caso Palocci” marque o fim de alguma coisa no governo Dilma apenas expressa seu desejo. Na verdade, a maior parte das pessoas que acha que é uma “bomba” não precisava dele para desgostar do governo. O “caso” é bom para o governo? Pode ser considerado irrelevante? É claro que não. Nenhum governo atravessa episódios desse tipo sem algum desgaste. O que está em questão é a extensão e a profundidade. O certo é que são raríssimos (se é que existem) os que mudam a avaliação de um governo, seja de que partido for, porque existem suspeitas contra um ministro. Ainda bem, pois, caso contrário, viveríamos em instabilidade ainda maior que a inevitável.

terça-feira, 31 de maio de 2011

Revista Época, até quando? - Arnóbio Rocha


Muitos companheiros ficaram admirados ou ofendidos com a Revista Época desta semana, que especula que Dilma está mal de saúde, por vias escusas conseguiram o prontuário médico dela, um crime é claro, que dificilmente terá qualquer desfecho, pois não faz parte da nossa tradição ir atrás deste tipo de ação ilegal e imoral. Quem acompanha o que tenho escrito sabe que acho este tipo de matéria e campanha difamatória está dentro da normalidade, mesmo sendo estes ataques covardes vejo que são normais dentro da sujeira midiática, mas o que é anormal é a covardia do Governo em aceitar, ou fingir que não viu, esperar que caia no esquecimento.
Alguns tópicos para reflexão dentro deste processo político e de debate:
1)   Vencemos três  eleições CONTRA a mídia inteira, nos 8 anos Lula ele foi acossado por ela. O governo Dilma estar indo para o mesmo caminho, pergunta quando vamos dar um basta? 
2)   Nada radical, apenas uma medida simples: Já que a mídia é a é OPOSIÇÃO sistemática e real ao governo e ao país, que ela viva sem verbas estatais e governamentais. Governo não pode temê-los, eles não têm votos;
3)   Até o fraco Governo Obama teve coragem de romper com Fox e identificá-la como órgão do Partido Republicanos, que o governo os trataria com Oposição. Qual a covardia aqui de romper com alguns aqui no Brasil? Cordialidade?
4)   É mais que provado que mídia brasileira é PSDB e este é mero correio de transmissão dela na arena política. Agem em sincronia. Um reverbera o outro, qual a dificuldade romper com eles?
5)   Um exemplo recente: na semana que PSDB fez sua propaganda eleitora em que focou na questão da Copa 2014 e dizia que não teria em estádio. Qual a  capa da Revista Veja? Maracanã só ficará pronto 2038…isto é o que? Com a palavra o TSE e MPE? tudo normal..
6)   Na campanha eleitoral Programa do Serra era turbinado pela grande mídia e vice-versa, já não passou da hora do PT deixar de ser covarde, medroso e romper;
Questão da Lei dos médios
Muitos companheiros ficam levantando lei de médios como a solução dos problemas de democracia na comunicações, sinto desapontá-los, não creio em nada disto por alguns fatos bem claros e por experiência de vida e militância:
1)   A chamada grande mídia “brasileira” nunca desembarcou das caravelas, é fato que ela vive não Europa medieval, como regular um troço deste? Ilusão demais;
2)   Mais ainda a regulamentação é conversa para boi dormir, ou vocês confiam em Anatel ? Anac?
3)   Como se iludir com uma mídia que não defende uma única bandeira democrática? Qualquer uma que seja, mesmo nos marcos do capital, eles não apoiam uma reforma se quer, foi assim que deram amplo apoio ao golpe militar e se opões ferozmente a todo movimento social organizado. Sempre denegriram a Cut, CPT e o MST, por exemplo;
4)   Houve uma piora acentuada com consolidação do pensamento único anos 90, depois de um breve momento tático que apoiram as diretas, a maioria era contra. Com a queda do muro e o advento do consenso de Washington acabou qualquer  possibilidade de diálogo democrático;
Cada dia precisamos mais de pensamento independente, livre de amarras, para democratizar o acesso e a luta direta dos trabalhadores, sem criar ilusões em leis ou organizações francamente anti-democráticas.

domingo, 29 de maio de 2011

A Força dos Conservadores - Texto de Ivan Iunes - Correio Braziliense - 29/05/2011

Votações recentes indicam o crescimento do peso político de grupos como os ruralistas e os evangélicos.

A fragilidade do governo federal pós-votação do Código Florestal fez ressurgir no Congresso Nacional uma força que ultrapassa as colorações partidárias. Nem governo, nem oposição, o que contou pontos decisivos para a aprovação da lei ambiental e para a substituição do kit anti-homofobia foram as forças de articulação das bancadas ruralista e evangélica. Com as alas suprapartidárias fortalecidas, dizem especialistas, podemos esperar um Congresso conservador para temas como o confisco de terras utilizadas para trabalho escravo, a descriminalização do aborto, além dos pontos mais polêmicos discutidos pela reforma política, como a cota para mulheres no parlamento.

Na fila da Câmara e do Senado para votação, diversos temas entram em conflito direto com as posições mais conservadoras do Congresso. Outros têm brechas abertas para aprovação, segundo as próprias bancadas consideradas conservadoras, como a criminalização da homofobia e a criação da Comissão da Verdade, para apurar violações de direitos humanos durante o regime militar (1964-1985). Já para a descriminalização de drogas leves, quaisquer alterações que flexibilizem a interrupção da gravidez e ampliações do direito de adoção para casais homossexuais, o caminho é tortuoso. “A fragilidade momentânea do governo revelou um poder que as bancadas tinham perdido em função das amarras impostas pela fidelidade partidária. Por isso, conseguiram segurar temas conservadores, como o kit anti-homofobia”, opina Antônio Queiroz, analista político do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar.

Para os cientistas políticos, outro motivo imediato da força conservadora é o fato de o próprio governo ter decidido pautar temas polêmicos no início do mandato. Em grande parte, eles foram evitados pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no ano passado, como a criação da Comissão da Verdade. “Até órgãos internacionais já criticam o Brasil por não ter feito isso. Lula saiu pela tangente, para evitar um embate final. Ele evitou os temas polêmicas e tudo isso caiu no colo da Dilma”, explica o cientista político David Fleischer, da Universidade de Brasília.

Bancadas maiores
Tido como pulso da força conservadora no Congresso, bancadas como a ruralista e a evangélica cresceram em relação à legislatura passada. Entre 2007 e 2010, quando contavam com 117 e 43 parlamentares, respectivamente, as duas bancadas conseguiram travar temas como a PEC do trabalho escravo, a profissionalização da prostituição e alteraram substancialmente projetos como o próprio Código Florestal e a nova Lei de Adoção.

Desde a posse dos novos deputados e senadores, em fevereiro, as duas bancadas ficaram ainda mais fortes e hoje somam 186 parlamentares. Para a presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara, Manuela D’Ávila (PCdoB-RS), mesmo com o avanço dessas bancadas, o Congresso não pode ser considerado conservador. “Não estamos consolidados entre conservadores e liberais como os norte-americanos. Temos deputados de esquerda com opiniões conservadoras, como a interrupção de gravidez de anencéfalos. São grupos que se organizam em torno de temas de direitos individuais. Acabam sendo conservadores em relação a um tema ou outro, mas não como um todo”, afirma Manuela.

Principal foco de polêmica da última semana, os projetos que visam a ampliar os direitos dos homossexuais não encontram tanta resistência no Congresso. A questão é estabelecer um diálogo que inclua todas as posições, afirma o presidente da Frente Parlamentar Evangélica, o deputado federal João Campos (PSDB-GO). “Não somos contrários à criminalização da homofobia, por exemplo, mas contra o texto atual. Ele fere direitos constitucionais, de livre expressão, e isso tem consequência sobre a inviolabilidade da crença, do pensamento. A partir dele, a polícia poderia fazer apreensões de símbolos religiosos sob o argumento de que seriam homofóbicos, como a Bíblia”, aponta Campos.

sexta-feira, 27 de maio de 2011

Você sabia que o Brasil é conservador? - Ivan Trindade - Blog Sozinho Falando




Ei, blogueiro de esquerda, posso te contar um segredo?
O Brasil é um país conservador composto por uma população majoritariamente conservadora.

Posso te contar outro?
Lula não foi eleito, reeleito e elegeu sua sucessora porque defendeu as bandeiras históricas da esquerda de classe média, mas porque conseguiu criar uma empatia com o povo brasileiro e, após eleito, porque fez um ótimo governo que trouxe ganhos reais à imensa maioria da população.

Mais um segredo?
O povo, o povão mesmo, não quer revolução, nem sabe onde fica o Irã e não aprova o casamento gay. Para a maioria do povo brasileiro, o povão mesmo, sexo entre dois homens ou duas mulheres é pecado e deveria ser crime!

Não foi o pensamento de esquerda que manteve o PT no poder nesses últimos 9 anos, mas a eficiência de um governo que representou conquistas palpáveis para o povo brasileiro, o povão mesmo.

As classes C, D e E, mesmo os evangélicos, voltaram a apoiar a Dilma no segundo turno não foi porque a blogosfera progressista derrubou as mentiras do PIG, mas porque elas temeram que Serra acabasse com o Prouni, com o Bolsa Família, com o microcrédito, com os feirões da Caixa, com as obras do PAC que geraram milhões de empregos, com o Minha Casa Minha Vida, com os concursos públicos e que vendesse o pre-sal (mas não porque eles acham entreguismo vender o pre-sal, mas porque temeram que o preço da gasolina subisse).

Tenho mais um segredo, quer ouvir?
Para imensa maioria do povo brasileiro, o MST não passa de um bando de invasores de terra que andam de lado a lado tomando a casa de quem trabalhou a vida inteira.

Se a Dilma propusesse um referendo sobre o casamento civil gay, você acha que ele seria aprovado? Nesse Brasil de tradição católica e de milhões de evangélicos?

Lembra do plebiscito do desarmamento? Sabe porque o “não” ganhou? Porque a maioria do povo acha que proibir a venda de armas representa desarmar o cidadão de bem e deixar o bandido armado.

Voltando à agricultura, parece loucura, mas tenho certeza que a maioria da população prefere comida barata no supermercado do que preservar a floresta amazônica.

E nem falei da nossa mídia, talvez a mais reacionária e conservadora do mundo. Tão conservadora que na campanha a rede de TV mais simpática à candidata do PT foi a Record, a TV da Igreja Universal. E tem blogueiro até hoje que acha que o apoio da Record aconteceu por algum outro motivo que não uma briga por audiência com a Globo. O Bispo pensou: “Se a Globo é contra o Lula e a Dilma, vou ficar a favor”.

É muito difícil ser um governo de esquerda no Brasil. Quase impossível.

Somos um país formado por uma elite que em sua quase maioria odeia ter nascido aqui e tem nojo desse povo mulato que enfeia as cidades; por uma classe média quase toda que só quer saber de reclamar de impostos altos, que acha que todo político é corrupto e que sonha virar classe A; e pelo povão massacrado socialmente, quase analfabeto, sem acesso à cultura, doutrinado pela grande mídia e convertido pelos pastores.

Você acha que é coincidência que só temos um parlamentar assumidamente gay na Câmara e mesmo assim recebendo ameaças de morte? Por isso, a cada dia, ganho mais consciência do gênio político de Luis Inácio Lula da Silva. Depois de três eleições perdidas, ele entendeu que o discurso de esquerda exaltado tão comum à uma parcela bem minoritária da classe média nunca vai eleger nem um síndico de prédio, quanto mais um presidente.

Lula virou o presidente mais popular do Brasil porque dialogou com o povo, entendeu que as classes C, D e E não querem revolução, mas o filho na faculdade, um emprego que pague bem, poder voar de avião, comprar a casa própria, ter uma saúde de qualidade.

Como ele mesmo diz: “Foi preciso um operário para fazer o capitalismo brasileiro funcionar de verdade”. Agora com Dilma no poder, voltamos à mesma discussão. A esquerda do twitter diz cobras e lagartos da presidenta porque ela recuou na questão do kit anti-homofobia.

Ora bolas, sabe o que eu ouvi do meu porteiro sobre o tema?  Que o governo estava querendo ensinar os filhos dele a serem gay.

Nesse Brasil majoritariamente conservador, não se vai conseguir nenhum avanço social e de cidadania com a política do pé na cara. O discurso dos radicais psolistas da Casper Libero que não cansam de querer ser vanguarda sem um povo para segui-los não vai nos levar a lugar nenhum.

A união civil homoafetiva foi aprovada no STF porque era o correto a fazer, porque a questão foi tratada com parcimônia e tranquilidade.

Quando você cria um símbolo e permite que esse símbolo chegue ao povo através do apelido kit gay (assim apelidado pelo PIG), você já perdeu a discussão. A onda conservadora vai se tornar um tsunami e não tem como as barreiras da blogosfera e do twitter contê-lo.

Lula ensinou e temos que seguir seu exemplo.
Para que o Brasil avance, é preciso convencer o povo, o povão mesmo, que o que buscamos é uma sociedade mais pacífica, justa, equilibrada, sustentável e livre.

E para isso, é preciso combater 500 anos de tradição conservadora alimentada a cada dia pela mídia e pela religião. É preciso deixar claro que o direito do outro não significa que você vai perder algum direito. Essa regra se aplica a quase tudo na discussão política.

O cidadão comum odeia ter a sensação de que o governo o está dizendo como viver. Outra regra que define quase tudo é que o radicalismo nunca leva a lugar algum.

Quem diz que evangélicos não merecem ter voz no debate pois são homofóbicos não é em nada diferente dos Bolsonaros e Malafaias da vida.